Lost to Apathy

segunda-feira, novembro 12, 2007

E assim

Quando penso acerca de tudo, em tons de cinzento e violeta, pinto os meus sonhos.
Finjo, por alguns minutos, obliviar-me das repercussões que os sonetos por mim dormido, infligiam. Era uma falácia a minha sensação de prazer auto-induzido e a correlativa força que impus ao pensamento que determinantemente me lacerava a pele era eu próprio vestido de tristeza.
Então envenenei-me com passado porque secretamente quis adormecer magoado para poder sonhar com a dor e não conseguir esconder-me dessa suposta verdade.
Ingenuamente vou abraçando lembranças monocórdicas de modo a que estas me facultem alguma sensatez dado que as minhas emoções assim o delineavam pois são, entre outras manifestações, parte da morte que advém do meu desígnio autodestrutivo.
Sou uma abrupta necessidade de me elevar a ninguém e camuflar-me da moralidade pois a minha demência justifica a interacção com a falta de contacto com o meu ego submisso. Assumo inequivocamente a necessidade de nunca pedir desculpas e jamais ter que perdoar alguém de modo a que nunca seja necessário justificar a minha patética índole sentimental.
Materializo as sensações puras que outrora ocupavam o meu membro cardíaco e, propositadamente, invoco os fantasmas que justificam tudo o que acontece na minha existência.
E assim, quando me encontro num mar de dor, navego. Venha o vento de onde vier bolino ao sabor da melancolia até ficar naufrago de demência. Entrego-me sem me ceder a amores de emergência, saboreio a mágoa enrolada numa mortalha com um filtro de memórias recorrentes: continuo. Vou por aí além e mais longe ainda no mar embriagado com pedras de gelo, coroado por ondas esfusiantes da precisa ferida de ser alguém.
- Um coração infeliz não é um coração saudável – e era essa a minha doença. Mais que os pulmões secos e minguados, mais do que o fígado inerte, mais do que o cérebro alienado, mais do que os rins incipientes, mais do que a alma toda junta. E o remédio era o pecado da solidão enfeitado com o mesmo marasmo inflamado de ser cruel.
Mas como até o amor é feito de coisas parvas pensei eu ser parvo também. Só que de ser parvo até ser triste ainda vai alguma distância e foi nesse caminho que eu me perdi.
Foram sonhos sem resposta de poemas e desilusões. O eufemismo dos violinos sem lágrimas; notas de música de plangência invariavelmente em si bemol; cortinas de oceanos na janela do sem querer de propósito e ocasiões: acho que não aprendi nada. Enviei-me uma carta de ilusões e nunca mais obtive a solução. Na passerelle de nuvens foi o mesmo de sempre: cultivei uma morte imediata como o arco-íris no dia de Sol. Um grande “O”, sistematicamente vazio; uma árvore nua de Primavera; um submisso de contingências contrastantes; um sorriso oco a quem tanto amor soube a pouco e teve nada.
Farto de sonhar e dormir. Farto de acordar: o aborrecimento de estar vivo, mesmo não existindo.
Fui sendo, quando podia e quando não pude só fui mais. Um espectro de uma sombra. Sou o que aspiro a ser sem nunca chegar a sê-lo.
Já chega! No que me diz respeito, esta merda acabou.