Omega, o Assassino de Nuvens
Omega é apenas um grande “o” vazio; como um sol sem planetas em volta, queimando em círculos concêntricos, eliminando partículas de si mesmo, até ao limiar do seu próprio fim. O caminhar para aquilo que está destinado a ser. Um ser sem alma e computorizado.O personagem pseudo-maquiavélico, inexplicável, por si só, que não existe senão noutro mundo em que a pressão é exercida pelo desejo de poder sonhar um pouco mais.
É a figura que exclama os seus pensamentos através de metafóricas passagens pela intrínseca demência. É o eu que nunca perde, que nunca luta. A anagénese em si mesmo.
- XXX –
Num dia igual aos outros que eclodiu suavemente um espirito. Levanta a sua cabeça que nada teme em si.
Um bom dia praguejado e fechado num senso comum de puras lamúrias e a decisão pacífica de um ódio sereno e de uma complexa dilecção nada passageira.
- Acordou o homicida -
O abraço extemporâneo das donzelas, dos companheiros apenas o torna um pouco mais humano, fomenta a sua simpatética dislexia emocional. Recusa-se a ser parte de algo que teme e tenta odiar primeiro, antes que o odeiem a si. Uma solidão efervescente ecoa no vazio do seu “eu” árido. Num ritual de todos os dias, senta-se no banco à espera dela, mas ninguém sabe bem quem é. Chama-lhe Deusa... No fundo não é ninguém, ele sabe. É apenas a personificação de uma emoção forte e de um desejo demasiado concreto para ser real, é apenas o sonho absoluto e o significado do que estará sempre por alcançar. A criação de algo palpável para supostamente ser atingível.
Um sorriso parisiense seria o suficiente para escapulir-se em ilusão, ou levar-se num furor ambíguo entre as partes de si mesmo, mas a ilusão é isso mesmo, a alucinação de quem deseja.
E lutou tanto...
É miserável este algo-humano espécimen de ódio. Nas nuvens combateu pragas, venceu oceanos. Voou em torno da sua desilusão....
Voar, sentir, morrer, sentir, respirar, sentir, sentir...
E depara-se com a velha posição sem caminho traçado. E ali está ela, que ninguém sabe quem é, a heroína dos seus sonhos, a narcose dos seus sentimentos. Ele inspira o seu amor numa injecção de consciência... Não há para onde ir, não há por quem lutar. Resta apenas beber amor de uma garrafa, encostar-se no seu vazio e voltar a esperar que amanhã nada disso volte a importar.
- In Absentia -
E depois revê-se nas suas palavras, porque já sabe bem que é, já descobriu o que sentia, já se sente verdadeiro outra vez. No rombo da felicidade encontrada o Omega define-se outra vez como o fim, porque a sua origem é mesmo essa, e a conclusão faz parte de si. Pelos segundos em que mereceu sorrir, repara o quão triste é, mas no fundo apercebe-se que vai poder sempre sonhar.
- Id -
Hoje ele curva-se perante tudo aquilo que nunca quis acreditar; supostamente livre das sombras que lhe tomavam a paixão. E assim renasceu Omega, o Assassino de Nuvens.
5 comment(s):
Simplesmente brilhante a forma como descreveste algo tão complexo como um alter-ego. omega é nada mais nada menos do q isso mesmo, algo que és, ou tencionas ser, algo que de certa forma te faz sentir melhor, ou algo que te dá forças. está mto bem conseguido, como todos os outros post's. qualidade de escrita está ou deverias estar associado a Igor Vicente. keep it up
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Anónimo, at
terça-feira, janeiro 31, 2006
Como sempre, e não sendo novidade em ti, está simplesmente genial. E quando utilizo a palavra genial é mesmo no sentido literal e primário da palavra. É de génio uma descrição tão perfeita de algo tão dificil de descrever como é o caso do teu próprio alter-ego. À altura de um pessoa criador de heterónimos, eis que surge alguém capaz de criar um alter-ego tão perfeito em termos de expressividade e genialidade, o teu Omega "Pseudo-Maquiavélico" =)
Excelente trabalho, Igor! =)
Fica bem ;) * * * * * * *
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Anónimo, at
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
"Omega é apenas um grande “o” vazio; como um sol sem planetas em volta(...)O caminhar para aquilo que está destinado a ser(...)É o eu que nunca perde, que nunca luta. A anagénese em si mesmo."
- Digamos então que Omega é o final de algo que nunca começou. Um anacronismo que se perde em si mesmo e que não deixa a sua existência cessar, mas que não luta por existir, e que em última análise pode ser considerado um ser preso (por sua própria vontade) a uma ataraxia confortável. É alguém sem dúvida complexo e até mesmo completo, e se pensarmos bem pode talvez ser a parte que completa o seu criador.
“Num dia igual aos outros que eclodiu suavemente um espirito. Levanta a sua cabeça que nada teme em si(...)e a decisão pacífica de um ódio sereno e de uma complexa dilecção nada passageira(...)Recusa-se a ser parte de algo que teme e tenta odiar primeiro, antes que o odeiem a si."
- É forte na sua esfera de acção, e, de certo modo, tem uma função protectora perante o seu autor. Mais uma vez é visível a sua opção de não se deixar levar por emoções que podem fazer com que se desvie do seu objectivo (seja ele qual for). Omega tem uma reacção curiosa, pessoalmente acho que denota algum medo da rejeição por parte dele, ou medo de não ser aquilo que terceiros aspiram que ele seja, talvez por isso ele opte por os odiar/repudiar primeiro.
“Num ritual de todos os dias, senta-se no banco à espera dela, mas ninguém sabe bem quem é. Chama-lhe Deusa... No fundo não é ninguém, ele sabe. É apenas a personificação de uma emoção forte e de um desejo demasiado concreto para ser real, é apenas o sonho absoluto e o significado do que estará sempre por alcançar.”
- Ah, chegámos aqui ao que me parece ser o primeiro ponto de contacto entre o alter-ego e o seu criador. Criado a partir de uma vontade automotora, Omega, confunde aqui o desejo de Igor, bom talvez não confunda porque na verdade os desejos são iguais para ambos, a diferença estará, porventura, na abordagem que é feita. (Apenas como nota de rodapé este desejo não é apenas do Omega, ou Igor, é o de alguns, incluindo eu, que sabem que o amor à perfeição de um sentimento é puramente platónico, visto que tal não existe, podemos apenas sonhar) – e, parafraseando-te “é apenas o sonho absoluto e o significado do que estará sempre por alcançar”. Não posso deixar de dizer que Omega sente mais que muitos e menos que todos e daí advém a sua complexidade.
“Ele inspira o seu amor numa injecção de consciência... Não há para onde ir, não há por quem lutar. Resta apenas beber amor de uma garrafa, encostar-se no seu vazio e voltar a esperar que amanhã nada disso volte a importar.”
- Aqui sim, Omega! Consciente de que nada pode fazer para fazer parte desse amor inexistente, mas que tanto morde a alma, senta-se e espera que amanha tudo o que foi sentido hoje não faça diferença, contudo o amanhã não trará surpresas, o mesmo sentimento, o mesmo despertar de ódios ociosos demais para se mostrarem, e então passará mais um dia não lutando para não perder.
Remetes os leitores para o In Absentia, uma fase em que Omega se questionava se devia avançar mais um pouco cada dia e, caso avançasse, se esse avanço não seria simplesmente por obrigação ou por comando independente de si, procurando rasteiras a cada novo passo. Estará Omega com receio de avançar novamente ou será que já sabe para onde ir e como lá chegar (ataraxia).
“E depois revê-se nas suas palavras, porque já sabe bem que é, já descobriu o que sentia, já se sente verdadeiro outra vez. No rombo da felicidade encontrada o Omega define-se outra vez como o fim, porque a sua origem é mesmo essa, e a conclusão faz parte de si.”
- Definição absoluta e concreta daquilo que é, não do que escolheu ser, mas do que tem que ser e essa descoberta traz-lhe a felicidade encontrada no seu fim, que é o principio do seu ser, a sua “origem”. Permite-se sonhar porque sabe que isso ninguém lhe pode tirar. Mas não será esse sonho demasiado oneroso na vida real?
Mais uma vez remetes-nos a algo passado, desta feita algo mais luminoso, mais positivo, Omega pertence ao mundo criado em Id, um mundo que está ao seu alcance e que ele sabe que pode pertencer sem se sentir julgado, um mundo que é não existente, assim como ele, apenas existe num certo contexto e com um certo propósito, “sonhar a própria vida”.
“Hoje ele curva-se perante tudo aquilo que nunca quis acreditar; supostamente livre das sombras que lhe tomavam a paixão. E assim renasceu Omega, o Assassino de Nuvens.”
Abraça aquilo que nada lhe diz, é condescendente perante aquilo que não acredita e está “supostamente livre das sombras que lhe tomavam a paixão”. Aceita, assim, o seu destino, ser Omega – “nunca perde, que nunca luta. A anagénese em si mesmo”.
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Anónimo, at
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
será que acabaste te tornar numa personagem de um épico? sem duvida dramatizaste (no sentido lato) o teu lado metafisico, penso k é isso que aconteceu aqui.
não sei se concordo com a expressao alter-ego....pk na vdd n existe propriamente um ego diferente, talvez apenas uma autopsia a ti mesmo.
gostei da ideia de sistematizar esses aspectos tds, provavelmente seras o unico k poderá saber se está bem sistematizado mas a meu ver está bem estruturado e penso k era o teu objectivo principal,a estrutura....se tiver certo aviso que conseguiste.
parabéns plo esforço mt bem conseguido
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Anónimo, at
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
o que é um épico senao algo extraordinario........essa análise por ti feita ao sujeito Omega,subjugado pelo autor á sua pesudo existência.onde descreves "apenas um grande "o" vazio" , um ser mecanizado,que porem foi/é parte de ti neste texto mto bem estruturado e auto critico a personagens e situçaoes.
Parabéns grande vitoria literária e emocional.
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Anónimo, at
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
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