Tu! a) A Tal Carta de Amor
I - O Efeito BorboletaNos meus delírios infectados de amor via os teus olhos, sempre contemplativos, a rasgar-me na cara o sorriso solicitado. O deliciado aroma das palavras quentes que assola aquele pequeno pedaço de alma tomava-me o sangue. Tudo começou outrora.
Iluminámo–nos para nos alimentarmos de ambrósia e nos purificarmos em deuses tão depressa que o resto da minha respiração se transformou numa comoção. E quando subimos tão alto, inspirámos as duvidas e certezas, infiltrámo-nos em teias de medo limando a minha e tua significação. Entre as displicências, perdemo-nos em nós e embrenhamo-nos num “nós” agora existente . Sentimos, respiramos e desesperadamente vivemos. Encontramo-nos na nossa Babilónia de paraíso e em furor prometemo-nos luas de desejo, de ardor, de paixão. E em cada segundo em que atingimos o epitome da sensação que nos invade vivemos. Mas quando estamos vivos, morremos, morremo-nos.
II – Quando a Beleza conhece o Amor
Relacionarmo-nos é uma das maiores coisas da vida: é amar, compartilhar. Para amar é preciso transbordar de amor e para compartilhar é preciso ter amor. Quem se relaciona respeita e não possui. Possuir é destruir todas as possibilidades de se relacionar. Relacionar é um processo. Relacionamento é diferente de relacionar-se: é completo, fixo, morto. Antes devemo-nos relacionar connosco próprios e escutar o coração para a vida ir além do intelecto, da lógica, da dialéctica e das discriminações. É bom evitar substantivos e enfatizar os verbos.
Quando há dependência não há maturidade nem amor, há necessidade. Usa-se o outro, o que é desamoroso. Ninguém gosta de ser dependente, porque a dependência mata a liberdade. A maturidade vem com o amor e acaba com a necessidade. Amor é luxo, abundância. É ter tantas canções no coração, que é preciso cantá-las, não importando se há quem ouça. Quando somos autênticos, temos a aura do amor. Quando não, pedimos amor aos outros. Quem se apaixona não tem amor e, assim, não pode dar. Quem é maduro não cai de amor, mas eleva-se nele. Duas pessoas maduras que se amam, ajudam-se a tornarem-se mais livres. Liberdade, é um valor mais elevado que o amor.
Por isso é que o amor não vale a pena se a destruir.
O amor é mais verdadeiro e autêntico do que nós.
Todo caso de amor é um novo nascimento. O ego é como a escuridão, mas quando chega a luz do amor, a escuridão vai-se. As escolhas devem ser pelo real, pior e doloroso e não pelo confortável, conveniente e burguês. O amor tira-nos do ego, do passado e do padrão e por isso parece confusão. Ficar louco de vez em quando é necessidade básica para permanecer são. Quando a loucura é consciente, pode-se voltar. Todos os místicos são loucos. O amor é alquimia porque primeiro tira o ego e depois dá o centro. Amar é difícil, mas receber amor é quase impossível, porque a transformação é maior e o ego desaparece. É o anseio pelo divino que impede que qualquer relacionamento satisfaça. As pessoas mais criativas são as mais insatisfeitas porque sabem que muito mais é possível e não está a acontecer.
Amor 1: é orientado a um objecto.
Amor 2: ele transborda, não é orientado por um objecto. É uma amizade que enriquece a alma.
Amor 3: sujeito e objecto desaparecem: a pessoa é amor.
III - O Afirmativo da Negação
O Perfumado saliente aroma é
O segredo porque me rendo a teus pés
Para me segurar naquele momento
Inspirar minhas veias cá dentro
E elevar-me àquele caminho que delineámos
O Perfeito
O Adorado
O estático e incrível sentimento
Arrasta as emoções violentamente
Num desconcertante e aparente enredo de paixão auto suficiente
Adorámo-nos assim...
Eclipsaste o pensamento
Secaste as lágrimas inerente ao teu desígnio
E em segundos inflamados e eu chamei-te a mim
-Amor...
Em exaltação dionisíaca transportei-me
A racionalidade deixou de me abraçar
Imbuído em ti permaneci.
-Podia ficar assim para sempre.
Ver a ardência cair como uma tempestade.
E ao vê-la ficar a noite toda, eu não mudaria nada, nunca
Ficaria até fecharmos os olhos serenamente;
até os teus sonhos segurarem os meus...
Mas no meio da penumbra
O seu segredo descobre o ardor
E entre os medos completados
Descobre finalmente
Que só amou o amor
1 comment(s):
Tal como tinha dito, o novo cenário remete a uma maior sensação de acolhimento, melancolia, familiariedade, bem-estar, enfim uma iluminação pessoal talvez.
Gosto do título, impessoal o suficiente para que nos possamos abstrair da pessoa que escreve, mas intimo ao ponto de nos envolver na "tal carta de amor". O texto começa não muito diferente de muitos outros que já escreveste; amor, ilusão, sonho, queda, realidade. Mas é depois, no segundo paragrafo que a mudança se dá. O modo de abordar o assunto, a prorpia linguagem está diferente, mais "relatable" que nunca, atrevo-me a dizer.
Que seja ponto assente, o teu "eu" filosófico não desapareceu, e ainda bem, tu és um filósofo dos tempos modernos, consegues sembre atingir um certo grau de imparcialidade em temas que te são tão importantes e pessoais. Vês o tema analiticamente e testas a ideia/tese de modo a obteres um resultado que te permita ser um individuo na terceira pessoa que redige os textos a pensar no tema que tem em mãos, não no que possa sentir sobre tal assunto.
Voltando ao texto, Segunda parte: Mais que nunca o sentido crítico e analista está presente. É uma carta de amor com um sabor a final [a fim de algo para ser mais preciso], uma carta que explica o porquê das coisas terem o resultado que têm. "Amar é difícil, mas receber amor é quase impossível, porque a transformação é maior e o ego desaparece." Esta frase diz-me tanto, já falámos disto antes e estou de acordo com o que aqui dizes, receber o amor é mudar em parte aquilo que nos faz ser o que somos.
"O Afirmativo da Negação" - penso que o título muito pode dizer. Acontece aqui aquilo que não queriamos, aquilo que tememos, mas tentamos combater. Vou novamente buscar a ideia da carta ter um sabor a "fim", o titulo esta ultima parte é a afirmação disso mesmo. A afirmação da negação de amor, o fim da ilusão, o inicio da queda. "E entre os medos completados/Descobre finalmente/Que só amou o amor" Amar a ideia de amar.
Sê bem-vindo e parabéns!
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Unknown, at
quarta-feira, junho 07, 2006
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