Lost to Apathy

sábado, março 04, 2006

O Bom, o Belo e o Justo

Sentei-me e levei o copo à minha boca mais uma vez. Compassivamente, ingeri o Absinto.

-Alucino-me-

Pensava em ti e nos lugares que pertencem a ti, sabes? Pensei que não tinha medo mas afinal era uma ilusão. Andei à minha procura e não me apercebi... para quê saber exactamente quem sou se na verdade caminho a vida inteira na esperança de me transformar em outra coisa qualquer...?

Ouve-me...
Procuras-me entre as brumas da tua agonia, mas nunca me viste em tua cara. Sentes tudo aquilo que poderias sentir em cada segundo de uma nossa presença. Perguntas-te que és e o que sentes... Mas pergunto-te eu audaz: até que ponto estás disposto a ser ninguém? Até que ponto estás disposto a destruir-te?


Ser nada é aquilo que desejo com forças ou sem elas. Ser ninguém é o que sou sem te conhecer. Procuro-me algures naquilo que tu me possas mostrar, mas não penso nem sinto por ti. Desvio a racionalidade para o caminhar pelos sítios que nunca saberei bem onde são. Porque a certeza de que não existe mais nada é aquilo que me faz continuar a andar na tua direcção.

Quando sonhas eu existo....

Quando sonho, eu não existo... mas ao mesmo tempo sou mais do que aquilo que a realidade pode fazer de mim.

Quando leste naquele livro as verdades que assumes, esqueceste-te do véu de penumbra que pairou sempre sobre ti. Vives sonhos, condenado, pensando o nada que és, mas não vês o que é tão obvio que a realidade não é mais que o sonho aceite por todos.

Vês cruel personagem? O teu mundo não era nada afinal, a tua prisão não era nada afinal, o teu medo não era nada afinal...

Mas... quem sou eu? Que lugar a mim pertence? Sem os meus medos como posso definir-me?

O sonho irrompe...

(...)
Filho da noite extinta admito a face disforme
Nascido sem luz existente sinto a mente alucinada
Que fui criado num império vazio, entendo...
Tudo igual, tudo diferente: sendo nada, nada penso, nada digo.
Apenas sigo atrás, em frente
Assim para sempre


Sempre soubeste a tua pureza meu caro... Sempre quiseste o que não há...


O que eu procuro não existe, pois a sucessão de lutas apenas me coloca nos olhos a visão daquilo que realmente devia ver... Aquilo que eu desejo apenas me puxou com a sua força, porque agora encontro-me de joelhos...

Estás a caminhar para lado algum agora. Não consegues ver a tua confusão? Nada é puro ou impuro. Apenas divide o mundo onde tu pensas que existes, apenas te divide a ti mesmo.

Já chega...
Este é um momento bonito para transformar isto em uma meditação. Ninguém alguma vez lhe falou sobre isso. Na realidade, o oposto foi-lhe dito...

Uma pessoa dividida não pode estar em paz. Como ela pode ela estar? Onde colocas o teu diabo? Tens que destruí-lo e ele és tu; não podes destruí-lo. Não és dois. A realidade é una, mas por causa da tua atitude divisionária, dividiste a realidade exterior. Agora, consequentemente, o interior também será dividido. Assim, todo mundo está a lutar consigo mesmo. É como se estivesses lutando contra uma das mãos - a mão direita lutando contra a mão esquerda. Eu existo na minha mão direita e na minha mão esquerda; eu circulo em ambas. Mas eu posso opor uma contra a outra, a minha mão esquerda contra a minha mão direita. Eu posso criar um conflito, uma luta falsa. Algumas vezes eu posso enganar-me a mim mesmo, que a mão direita venceu e agora a esquerda está derrotada. Mas isso é uma ilusão, porque sei que sou eu em ambas e a qualquer momento posso colocar a esquerda para cima e a direita para baixo. Eu estou em ambas; ambas as mãos são minhas.

Nunca poderias dizer qual o teu desejo... a menos que desejes perder-te algures na tua essência...

Vivendo num mundo de sonhos,
Agora entendo:
Sonhei a minha própria vida


Não...
Pensaste em entender aquilo que faz de ti esse caminho sem saída mas perdeste-te na sua complexidade...
Olha para o mundo, mas não digas o que ele é. Sê ignorante, não sejas tão sábio. Não rotules, permanece em silêncio, sem condenar, sem justificar. Se puderes permanecer em silêncio sobre o mundo, mais e mais este silêncio entrará em ti internamente. E se não existir a divisão externamente, a divisão desaparecerá da consciência interior, porque ambas só podem existir juntas.

Alguém que está a tentar ir para algum lugar contra alguma coisa nunca estará em paz...

Irei sonhar para sempre preso no mundo onírico?
Como príncipe de lugar algum: descobri a minha alma
Um homem de sombras intermitentes, só
Entre lágrimas e traições nada vi. Não foi nada
Resumo a angústia subtil: –Não existi


Sê uma testemunha e não um juiz...

5 comment(s):

geez dude, duma beleza fenomenal este post. nem sei ao certo o que dizer, por momentos transportei-me para um cenario espantoso, envolvi-me num dialogo que não me pretencia e tentei argumentar. man, tu tás lá. keep it up

By Anonymous Anónimo, at segunda-feira, março 06, 2006  

vejo aqui um quase culminar das obras que já lançaste neste blog. pergunto-me se será um resumo, uma explicação ou um desenvolvimento.

creio que os três diferentes tipos de letra caracterizam três personagens, ou pelo menos três planos de consciencia. um seria o "eu" consciente e os outros os seus guias\juízes, penso eu (com ajuda do titulo mas isso tu não sabes ok?).

quanto ao tema, quase que descreveste aqui a vida e as questoes que suscita a cada um de nós, e fizeste-o na perfeição.

quanto á conclusão, reflecte bastante a nossa amiga ataraxia,e ao que parece será essa a "soluçao" encontrada para as questões. existe nela um pouco de admirar os digitos em vez de resolver a equação.

creio k o resto só cada um poderá absorver por si mas aplaudo o grande nivel de escrita que apresentas.

By Anonymous Anónimo, at quarta-feira, março 08, 2006  

ok esse ultimo comment foi meu

By Anonymous Anónimo, at quarta-feira, março 08, 2006  

"O Bom, o Belo e o Justo", concordo com o paiva quando diz que se podem observar 3 personagens aqui, muito disso está reflectido no titulo. Gosto da introdução na primeira pessoa, e seria a bebida fada verde? [a palavra "alucino-me" está verde e se for esse o caso não bebas tudo sozinho..=)]

O bom, o belo e o justo são 3 versões diferentes da mesma realidade, a discussão é uma só, mas analisada de vários pontos diferentes. Adoro o diálogo que têm porque se estam a julgar e a compreender ao mesmo tempo. Tentam explicar o porquê das falhas uns dos outros e a certa altura pareceu-me haver uma "aliança" entre dois deles, parece que um é mais julgado por talvez ter sonhado demais, por ter sido demasiado ingénuo. O texto em si contém passagens de outros textos já publicados como o Id, mas todo ele é um só. E como eu eu gostei do toque pessoal nas personagens, todas elas têm um pouco de omega e igor, mas mais omega, sobertudo, omega. As suas opiniões sobre o mundo e as relações entre as pessoas, a relação consigo mesmo. Os juízos feitos. está tudo tão deliciosamente bem feito, escrito, imaginado, desenhado, ilustrado, toda essa tua paixão, chamemos-lhe assim, por descobrir o porquê da nossa atitude perante o mundo e, principalmente, perante o nosso ser, a explicação do nosso "eu".

Desculpa não dizer mais que isto porque realmente o texto e o autor merecem mais, mas ficaria perto do desgaste se tentasse analisar todos os paragrafos, talvez noutra altura e pessoalmente. Pra ja elogio a tua escrita que está matematicamente divina, tens um dom (ou apenas um jeito exacerbado) para isto, devias tê-lo em maior consideração e não te limitares a um espaço na net.

abraços

By Anonymous Anónimo, at segunda-feira, março 13, 2006  

Sabes...conseguiste deixar-me sem palavras pra comentar...está simplesmente excelente o teu texto, criativo, imaginativo, expressivo, profundo, metafórico e muito bonito ao mesmo tempo. Há quem escreva porque tem que ser, tu escreves com arte, Omega!

Parabéns por mais um texto simplesmente genial!
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Bjus e fica bem ;)

By Anonymous Anónimo, at terça-feira, março 14, 2006  

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