Lost to Apathy

segunda-feira, novembro 28, 2005

Pureza

Mente encoberta, inflama os sentidos. A empatia surge em olhar. Um desejo empírico invade o corpo sequioso de algo.

|Sou|
Aquele que dorme de olhos abertos
Numa morte em movimento
Gastando a noite durante o dia
Sonhando em acordar outra vez

Serei eu o estranho por me deixar invadir pelo sentimento? Ou será estranho sentimento por ainda viver em mim? Sou eu, incubadora de emoções... Sendo o acto de respirar a lembrança de que o ódio é parte de mim. Mas serei eu fraco demais para ter coragem até de odiar, e imperfeito demais para esquecer? Invejo-te.

|Penso|
Lutar contra o mundo com palavras
Escravizar seus pensamentos
Limpar lágrimas usando tristeza
Que sou... penso...
Catatónico apenas
Sorrir de medo

Contraio o meu corpo em espasmos de dor. Dissolução convexa ao âmago da minha sobrevivência. O olhar pútrido. A imperfeição crónica. E o que me diferencia de outros estúpidos é a minha própria estupidez.

|Quero|
Sentar no meu pensamento
Fumar a vida e esperar
Ignorar subsistência

|Vivo|
Momentos de sangue
Mancham e salpicam esta não-existência
Conforme rastejo para um mundo que me torna real

Nada a esconder. Nada para pensar ou para dizer. Nada compreensível. Nada com sentido. Sujo. Nojo. Pensamentos regurgitados. Sentença: ressentimento.

|Eu em mim|
Sinto -me seguro na sujidade
Melancolia:
A tipologia tipificada de um eu
Não sou eu, não
Não, eu não existo
Estou escondido só
A espera de saber da luminosidade que paira longe
Procuro a resposta:
-Mas quem pintou o mundo de preto?

Está frio...

sábado, novembro 19, 2005

Hatshepsut a) Livro de Ísis

Carne é só carne, quando carne apenas nada é. Fúria. Anagénese. Vida sem fluxo, supérfluo desígnio. Mente erradicada, paixão sem dono e mestre. Carroça sem condução. Diletante consciência abrasiva. a discência começa fácil, e ali, onde o Homem sofrendo se cala, um Deus permitiu-lhe dizer a verdade. Sonhar sem sonhar, viver sem viver, morrer sem tentar, o ditame das locuções invade:

- Serás minha! Amo-te. E amar-te é respirar-te. Não corres o risco de me matar, pois sem ti já morto estou. Deriva à minha existência algum calor em teus braços, pois nos pergaminhos da loucura a nossa história perdurará. É Amor. Amor esse é uma lei. Com o seu próprio tribunal e os seus próprios julgamentos, e à luz deles rogo a minha inocência, pois a demência que me atingiu, a mim não pertence. Aniquilai teus olhos que me desprezam, oh melíflua princesa... Dar-me-ás o teu coração visto que nem a mim eu me pertenço? Sendo eu teu, a ti me entrego.
Era difícil dizer que sim, que não. Nada, nunca. Amanhã, talvez. Sintético e ecléctico.

- Moribundo sem certezas. Um caminho. Síncrise. – ele era.

Morta ou vazia, rainha ou imperatriz, deusa ou princesa. Nada ou dada. Viva sem sonhos. Sonhos de vida. Quimera sem existência. Um ambiente de amoníaco entrelaçado com o cheiro uniforme do marfim. Carcaças bestiais impregnam a esfera com o pútrido aroma inerente. Rubis e esmeraldas incrustadas nas paredes remetem aos pensamentos as alucinações convictas infligidas pelo Absinto. O coração palpita descompassadamente, irreverente. Nos seus olhos, um circundante ermo, vazio como ela própria; anestésicos, lapidavam o seu despojado sorriso, como um certame entre a paixão e angústia, a dilecção e a abominação.

- A paixão que descreves com teus olhos apenas parte dela é. Apenas sentes as palavras, quando as palavras isso mesmo são. Tua miragem apenas sou. Louco... Tua demência imunda repugna-me.

Uma bênção indelével parecia cuspir incursões de índoles romanceadas, longe da própria realidade. Estaria ela hoje longe ou perto? Fria por certo. Senmut retorque apaziguadoramente:
- Negar-me-ias quando teu coração te ordena o meu beijo? Livre de ti, reclamas a tua alma quando nada confeccionas com ela. Livra-te da tua solidão, rainha. Oferece-me o teu coração, o teu corpo. Ilude-me. Mente-me! Faz-me sonhar! Fingirei viver...

Uma imperatriz do mundo, eloquentemente só, de repente sente-se fraquejar. Os olhos carmesins do tresloucado postulante invadem seu, aparentemente forte, espírito. Seu peito cede e, esperançosamente, pergunta-se se poderá ser feliz. Sua existência, prolífica em pesadelos, clama a ela própria esta paixão, pois seu coração denegado aos Deuses, exige para si a chama imensa: todos os beijos, todos os toques... Seja o que for que alimente a ardência eterna será sempre um sacrilégio aos olhos desta crença imortal.

- Tua loucura desata a minha complacência. Tua tolice o meu perdão. A tua deslealdade afronta a minha devoção. Anúbis jamais te perdoará por tal solene insolência. Vai enquanto podes... A fúria de meu irmão abater-se-á sobre ti e aí nem o teu enxame de delírio poderá poupar-te à fome de Osíris.

Sentido a mente dela fraquejar Senmut preparava-se para aproveitar o ímpeto:
- Deusa... – murmurou, quando foi interrompido.
- Tal coração corajoso comove-me. Porém, os Deuses exigem meu desprezo. Embora meu ânimo se renda a ti. Tal insensatez custar-te-á caro, pois o perdão a meu irmão nada diz. Seu coração há muito se deixou dominar pela escuridão, dissipou-se entre as trevas. Apaixonou-se por seus olhos, pois nada vê para além deles. Tua mente apaixonada impele-me ao seu ardor. Mas a prudência e quem eu sou convencem-me a não lutar.
- Amor é uma coisa que em si não conhece prudência nem medida; não podes governá-la pela prudência. – defende-se - Por todo o amor desprezado, pelos elementos infernais! Eu queria conhecer algo mais atroz, para assim exprimir a minha maldição. Não pergunto, não me preocupo se existe culpa no teu coração; eu sei que te amo, quem quer que sejas.

terça-feira, novembro 01, 2005

Id

Nos olhos, no coração, na carne Arranjei uma forma de me limpar da dor
Na minha mente o tempo todo: Outro mundo
Vi fontes prateadas, castelos pintados de ouro e Inventei sonhos e fábulas
Com um lampejo carmesim tingi sangue E criei estórias, eclipsei dores febris. Ardores etereos
Irei sonhar para sempre preso No mundo onírico?
Como príncipe de lugar algum: Descobri a minha alma
Um homem de sombras intermitentes,
Entre lágrimas e traições Nada vi. Não foi nada
Resumo a angústia subtil: –Não existi
Na minha prisão de noite e dia Não conheço dor nem medo. Não percebo
Despojado da minha alma (vil) –Como estou eu preso aqui?
Amor conquista amor mas Estou deserto, eternamente céptico
-Como posso acabar assim?
Sangue encontra novo sangue ficando Estático, apático, imóvel.
Mas o sonho irrompe...
O coração infectado Invade e devora
E, dissoluto, solto um: (sorriso)
-Dir-me-ás quem sou? ( Aguardo a devastação sereno.)
Filho da noite extinta Admito a face disforme
Nascido sem luz existente sinto A mente alucinada
Que fui criado num império vazio Entendo...
Tudo igual, tudo diferente: Sendo nada, nada penso, nada digo.
Um rio de fogo percorre-me mas Apenas sigo, atrás, em frente.
Estou cansado vou render-me Assim para sempre.
Vivendo num mundo de sonhos,
Sucumbido perante a noite Agora entendo:
Acabo-me indulgente: -Sonhei a minha própria vida.



Well I won't ever change my ways
And I can't be strong
Please don't ever tell the world
That I don't belong